O estatuto da bicicleta enquanto transporte sustentável por excelência não é de hoje. Mas hoje, e cada vez mais, a bicicleta alcança a consensualidade como, não só solução ecológica para a mobilidade urbana, mas também a resposta criativa a vários desafios ambientais e sociais da atualidade.
A sociedade transforma-se e, com ela, a urgente necessidade de criar oportunidades para que todas as camadas e faixas etárias que a constituem tenham acesso a ferramentas, metodologias e soluções que tornem a sua vida individual e coletiva mais sustentável, deixando uma pegada ecológica cada vez menor.
Neste Dia Internacional da Bicicleta deixámos dois projetos da Casa do Impacto mostrar de que forma este veículo ancestral continua a fazer o caminho para o futuro, desde a Infância, à Senioridade.
> CICLO EXPRESSO | BICICULTURA + SEMPRE A RODAR:
“No âmbito da nossa ação na cooperativa Bicicultura, projetos de impacto e com foco no uso da bicicleta são dois lados da mesma moeda.
Nas dinâmicas de empreendedorismo em que participamos, costumamos ouvir que nos deveríamos focar no problema e não na solução. A nossa “dificuldade” vem do facto da promoção da bicicleta como forma de mobilidade ser, de forma inequívoca, uma solução potente e conciliadora de vários problemas simultâneos.
Em relação ao setor dos transportes – que representa cerca de um terço das emissões de gases de efeito de estufa e que não evidenciado tendência de redução – a transição de parte das deslocações em automóvel privado para bicicleta é uma das soluções incontornáveis. Isto, ao mesmo tempo que proporcionamos ganhos extraordinários para a saúde pública por via da redução da sedentariedade, da melhoria da condição cardiovascular, e da prevenção de vários tipos de cancros e de depressão, estimados na UE como valendo 64€ por cada 100 quilómetros pedalados. Some-se a isto a redução do ruído e do congestionamento, a realocação de espaço público que podemos usufruir – visto que a mobilidade automóvel ocupa neste momento uma fatia de leão do mesmo para fluxo e estacionamento -, a redução da sinistralidade rodoviária e o aumento do comércio de proximidade. Some-se isto tudo à promoção de uma forma de deslocação que nos faz sorrir e que promove as interações sociais: estudos recentes até correlacionam o uso da bicicleta com a maior orientação das pessoas para o bem-comum através da participação política e social, e solidariedade e entreajuda entre vizinhos.
Partindo da base comum em que aumentar o uso da bicicleta para mobilidade é algo altamente desejável, redirecionamos a nossa atenção para uma abordagem mais específica: quais são os fatores condicionantes para pôr mais pessoas a pedalar mais vezes e de que forma os podemos desbloquear? Para além de infraestrutura segura e confortável, precisamos, entre outras coisas, de ajudar a criar referências sobre o uso deste modo de transporte, e de facilitar os seus processos de adoção. Neste sentido, ajudamos as crianças a ir para a escola de bicicleta através dos comboios de bicicletas do CicloExpresso, removemos barreiras à troca de bicicletas à medida que as crianças crescem através do Sempre a Rodar – promovendo, à boleia, os valores da sustentabilidade e da economia circular – e ajudamos os educadores e educadoras a levar as turmas inteiras do pré-escolar a parques e outros locais de lazer, transportados nos pedicabs do Cresc(h)e na Rua! Promovemos a experimentação de bicicletas de carga, que são mais caras e desconhecidas, através da nossa Veloteca – que até pode ir a outras cidades através do Roadshow – e organizamos uma miríade de eventos culturais em que abordamos, de forma direta ou implícita, as soluções que o mundo já descobriu para pedalarmos mais.
Noutros países em que chove bem mais que em Portugal têm dezenas de vezes mais viagens pendulares em bicicleta. É só replicar!”
Luís Vieira – Co-Fundador “Sempre a Rodar”
“Um trishaw é uma bicicleta para todas as idades.
“Pelo direito ao vento nos cabelos” é o lema deste movimento, mas é muito mais que isso, é pelo direito a pertencer, a poder continuar a ter acesso aos pequenos prazeres da vida como é o de andar de bicicleta. Envelhecer traz perdas, é certo, mas podemos minimizar algumas com respostas simples e sustentáveis, como são estes passeios de trishaw que promovem a interação social entre os voluntários mais jovens, passageiros com 80, 90 ou até mais anos. Haverá coisa melhor do que poder ser conduzido numa bicicleta, no dia em que completa 100 anos, e no final ter filhos, netos, bisnetos e trisnetos à espera e celebrar num jardim uma data tão importante?
Através destes passeios criam-se relações, ouvem-se histórias de vida, valorizam-se quem já deu tanto aos outros e, acima de tudo, combate-se a solidão e isolamento social. O impacto desta proposta não se faz sentir apenas nos beneficiários, a integração dos passeios de trishaw na comunidade local fortalece os laços sociais e promove um sentido de pertença. Ver um trishaw passar com seniores felizes e um voluntário sorridente, tornam os membros da comunidade mais conscientes das necessidades dos outros, incentivando comportamentos mais empáticos e solidários.
Quanto aos voluntários, têm um retorno imediato da sua ação. Assim que o trishaw começa a andar, percebem imediatamente que estão a fazer diferença na vida de alguém, completado pela prática de exercício físico.
As contribuições ambientais são também visíveis: a utilização de trishaws, como meio de transporte de mobilidade suave, reduz a dependência de veículos motorizados, diminui a emissão de gases e a poluição sonora. A promoção do uso destes veículos pode inspirar mudanças maiores nas práticas de transporte urbano, incentivando políticas de mobilidade sustentável.
A sustentabilidade e a expansão da Associação dependem de um modelo de financiamento que tem o apoio da Fundação Ageas através do modelo de Investimento de Impacto.
A Pedalar Sem Idade Portugal é uma Associação sem fins lucrativos legalmente constituída em 2018 e que pertence a um movimento internacional que combate a solidão não desejada e o isolamento social, através de passeios regulares de trishaw (bicicletas adaptadas), realizados por pilotos voluntário devidamente treinados. Teve início em 2012, em Copenhaga e fundado por Ole Kassow, a Cycling Without Age está hoje presente em 59 países, com mais de 3500 trishaws e cerca de 35 000 voluntários envolvidos que passearam 1/5 milhão de seniores.
Este movimento não é só sobre bicicletas, nem apenas sobre mobilidade ou sustentabilidade, é uma atitude inovadora de ver o voluntariado, sobre relações humanas, generosidade, sobre fazer as coisas devagar e com propósito e sobre as histórias que nos inspiram. É um ato simples de generosidade que pretende voltar a incluir na sociedade centenas de pessoas. No Dia da Bicicleta e todos os dias do ano!”
Margarida Guedes de Quinhones – Diretora Executiva da “Pedalar Sem Idade Portugal”
Estes são alguns projetos de Empreendedorismo de Impacto que transcendem a definição tradicional da bicicleta como meio de transporte e contribuem para construir o seu estatuto de veículo de Impacto que, não só se apresenta como um recurso ecológico para um mercado com cada vez maior necessidade de soluções verdes, mas auxiliam na construção de hábitos de consumo que promovem a Sustentabilidade Ambiental, Social e Económica.
Feliz Dia Internacional da Bicicleta!
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