Por: Anabell Acevedo – uma mulher que foi migrante várias vezes
“O que é que significa para si procurar “o melhor”? Talvez seja encontrar um novo emprego, escolher um seguro, mudar a escola dos seus filhos, mudar para outro bairro, ou simplesmente comprar um casaco impermeável para não se molhar quando chove. Para a maioria, “o melhor” é andar na rua sem medo, construir uma vida em que só um emprego permite satisfazer, pelo menos, as necessidades básicas. Para alguns, “o melhor” está na capital do seu país, por exemplo; para outros, esse “melhor” só pode ser encontrado atravessando uma fronteira. Se o que para si é “o melhor” está do outro lado da fronteira, o que faria?
Enquanto Humanidade, o que nos trouxe até aqui foi a nossa capacidade de nos unirmos, e trabalhar em conjunto. Desde o nosso início como uma das espécies mais frágeis do planeta, a colaboração tem sido fundamental para a nossa sobrevivência e desenvolvimento. No entanto, por vezes, permitimos que alguns criem barreiras e diferenças e insistam em fazer-nos crer que elas existem quando, na verdade, nem sequer estão lá. Nos últimos anos ganhou força uma narrativa global cómoda e cobarde.
É cómoda porque instala premissas sem se preocupar em verificar a sua veracidade. Acreditar, simplesmente por acreditar, é cómodo. E é ainda mais cómodo acreditar no que dizem certos “líderes”, sem questionar nem se interrogar sobre o que está por detrás dos seus discursos. Na era da desinformação, não basta acreditar: é necessário exercer o pensamento crítico, e aí reside parte do nosso poder enquanto cidadãos. Será que vai ser capaz de o utilizar ou não?
E é cobarde porque se baseia no medo. O desconhecido pode ser assustador, mas é aí que reside a coragem, o crescimento e a evolução. Experimentar o desconhecido permite-nos descobrir coisas sobre nós próprios, sobre a nossa comunidade e até sobre o nosso país. É por isso, entre muitas outras coisas, que os Migrantes são pessoas corajosas: aqueles que se atrevem a ir para o desconhecido à procura do que consideram “melhor”.
Independentemente da ideologia política, os tiranos são cómodos e cobardes, e é assim que eles querem as pessoas. Historicamente, estas lideranças desumanizadoras têm-se esforçado por dizer ao povo o que deve pensar e como deve agir, especialmente em relação aos Migrantes, pessoas cujo único “crime” é ousar.
Quando os humanos do futuro lerem os livros de História, que caraterísticas nos definirão enquanto sociedade? Nos anos 80, a música disco; nos anos 2000, a ascensão da Internet: nós, nos anos 2020, o quê? Aterrorizados e acomodados?
Segundo a OIM, a percentagem da população Migrante internacional é inferior a 5%. Apesar disso, os Migrantes foram transformados em bodes expiatórios, utilizados para desviar a atenção dos problemas que os mesmos dirigentes desumanizadores não conseguiram resolver. Será que acreditamos mesmo que esta percentagem de pessoas é responsável por todos os problemas das nossas sociedades?
Tenho a certeza de que estes anos serão recordados como pontos de viragem, onde a Humanidade mostrou o seu verdadeiro valor: confiança em si e no outro; compaixão, coragem, inventividade e tenacidade. E como tenho a certeza? Porque vejo pessoas a criar, a reforçar laços comunitários, professores a incentivar a reflexão nos seus alunos, ativistas a usar as suas plataformas para amplificar vozes silenciadas. Vejo multidões a sair à rua para dizer não ao racismo, não à xenofobia e para defender conquistas tão essenciais como os Direitos Humanos. Porque não nos confundamos: ser Migrante é, precisamente, exercer um direito humano.”
Anabell Acevedo é Founder e CEO da Equivalence, uma plataforma que permite criar um ID descentralizado para Migrantes e talentos internacionais, onde as competências, experiências e o valor de uma pessoa são “tokenizados” e verificáveis, criando uma cidadania global transparente e imutável.
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