Regenerative Land Trust Fund é, a solução para a regeneração da terra do Value Flow. Residente na Casa do Impacto, é promovido por uma equipa multidisciplinar, da qual fazem parte: Paulo de Carvalho, Telma Gomes, Jefferson Sofarelli, Katharina Serafimova, Fábio Borges e Jeronimo Souza.

O Paulo é formado em Informática, Desenho Organizacional e Engenharia. Liderou programas internacionais de transformação, implementando soluções de automação e inteligência artificial. A Telma é co-fundadora e CEO da SEEDS para a Sustentabilidade, Mestre em Liderança Estratégica para a Sustentabilidade (BTH) e tem experiência de vinte anos em multinacionais e no Secretariado de Relações Institucionais do Brasil. O Jefferson é Engenheiro de Software e Ativista da Internet e entusiasta de tecnologias descentralizadas como Identidades Auto-Soberanas, Blockchains e Organizações Autónomas Descentralizadas. A Katharina tem experiência como Head of Renewable Resources, Head Sustainability, Senior Advisor Sustainable Finance e desde 2014 que leciona no Institute for Banking and Finance, University of Zurich. É também co-founder na Food Network, Terra in Mértola e do Regenerate Forum. O Fábio tem sido boarding member, investidor e consultor independente para várias empresas, startups  e ONG no Brasil, Canadá e Europa. Empreendedor e mentor em projetos regenerativos, é formado em MKT e Gestão de Negócios, MBA internacional na IESE Business School. O Jeronimo tem experiência na área financeira, como supervisor de gestores de ativos no Reino Unido. Desenvolveu e implementou quadros de gestão de risco nos sectores de retalho, privado e de banca de investimento. É licenciado em Engenharia Química e Mestre em Banca Internacional pela Southampton University.

 

FOUNDERS DE IMPACTO | ODS 11 | Cidades e comunidades sustentáveis

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Qual a missão do Value Flow?

Começo por partilhar que acredito que uma parte dos desafios que temos hoje, resulta do pensamento “problem solving”, que encara a realidade como um problema que tem que ser resolvido. Acredito mais que, há um potencial evolutivo em cada situação quando criado o contexto certo, que produz resultados “qualitativa e quantitativamente” melhores.

O Value Flow nasce de duas constatações importantes:

  • – Que o sistema económico/financeiro que criámos, sendo a maior construção humana, é o seu maior constrangimento e por isso contém o maior potencial evolutivo.
  • – Que nós humanos temos, intrinsecamente, um conjunto de valores que são consistentes com a vida e distam muito do que a economia valoriza. Ou pior, a economia, tem um sistema de “valores” contrários à vida.

Dois exemplos: embora a carta de direitos universais assinale um conjunto de direitos a todos os humanos, estes não são garantidos socialmente e dependem do “estado da economia”; direito ao trabalho, à educação(…) um cuidador pode trabalhar para um lar ganhando um salário, prestando cuidados em todos idênticos a outro cuidador mas que por o fazer de forma voluntária e numa relação de proximidade, não ganha um salário equivalente

 

Qual o modelo de negócio do “Regenerative Land Trust Fund”?

O Regenerative Land Trust Fund apropria-se do mecanismo IPO (Initial Public Offering) e adapta-o como uma metáfora à terra, enquanto propriedade. Durante um ano investigámos 3 grandes temas centrais ao movimento regenerativo: a complexidade da terra como propriedade, a regeneração, e os modelos económicos e financeiros que suportam as atividades ligadas à terra (agrícolas, florestais, turísticas).

Existem enormes desafios que implicam uma mudança profunda de mentalidades. Exemplo disso é o desafio da regeneração enquanto conceito, que está relacionado com a nossa capacidade para pensar e agir a longo-prazo (transgeracional). Outro desafio relaciona-se com a forma como lidamos com a terra enquanto posse e outro ainda é o que valorizamos quando a olhamos enquanto imóvel.

A nossa investigação permitiu concluir que há um número crescente de proprietários e investidores com coração regenerador, para o qual o modelo de negócio proposto faz sentido.

Estamos de momento em fase de “prototipagem” para validação do modelo de negócio, que assenta nas componentes de:

  • – Agenciamento: a entidade que se comporta como mediador entre investidores e proprietários e que cobra uma comissão de transação
  • – Avaliação: a entidade define um modelo rigoroso nos parâmetros de avaliação de um terreno e providência essa informação como um serviço disponível para a um gestor de investimentos que aconselha os investidores neste nicho de mercado

 

A cadeia de valor esperada considera os subprodutos (desperdícios) numa lógica de economia circular?

A nossa conceptualização assenta em duas dinâmicas financeiras:

  • – Uma simples e direta que é a força motriz do fundo. Corresponde ao mecanismo de “IPO” que permite o início do projeto de regeneração.
  • – Uma complexa, que suporta e aporta valor ao regenerador em todo o ciclo de regeneração.

Esta segunda camada tem muitas variantes. Existe um enorme valor resultante das sinergias de escala que o fundo pode potenciar, bem como do rigor científico das métricas. Como exemplo, hoje temos um valor adicional dado pelos mercados voluntários ou certificados de carbono. O fundo pretende dinamizar esses mercados. Estamos seguros de que, vamos monetizar outros “eco-serviços” no futuro, tais como a capacidade de reter e filtrar água. Estes são exemplos do tipo de economias que o fundo pode dinamizar e que resultam como potenciais fontes de receita adicionais para todos os intervenientes.

Em complemento, abraçar a regeneração é abraçar a regeneração económica em torno dos locais de intervenção. A regeneração económica é muito mais profunda do que a economia circular.

Juntando estes elementos, existirá sempre a preocupação em ter um aproveitamento e uma valorização máxima do que hoje consideramos desperdício. Ficam dois exemplos:

  • – Consolidar uma rede de compostagem permite maximizar a qualidade e quantidade de matéria orgânica no solo, hoje desperdiçada em muitos locais.
  • – Hoje a indústria consegue aproveitar as cascas de amêndoas que outrora foram desperdício e tirar partido das suas propriedades, tais como a capacidade isolante. Existe um infinito e abundante mar de possibilidades quando olhamos para a natureza com o olhar da biomimética.

 

Em março deste ano, realizaram uma sessão dinamizada pela ESDIME sobre o Regenerative Land Trust Fund, com o intuito de criar awareness junto de proprietários alinhados com a ideia de regeneração de terra. O que evoluiu desde aqui?

(…) Durante um ano repetimos sessões deste tipo e entrevistamos dezenas de proprietários regeneradores. Aprendemos imenso e a nossa proposta incorporou essa aprendizagem. Pessoalmente destaco as seguintes:

  • – Sobre a terra enquanto propriedade, aprendemos a complexidade inerente a este conceito. Existe uma relação com a terra que tem uma expressão particular no significado de “se ser proprietário”. Um regenerador vê-se como um guardião, não somente como um “proprietário” o que marca a diferença entre “estar-se em relação com”, ou “ter-se posse de”. Isto significa que o conceito de guardião deveria ser consagrado juridicamente, para garantir esta diferenciação. O fundo não está a comprar a terra, está sim a alterar a relação de posse para uma relação de cuidar, que nunca mais seja revertida.
  • – Sobre o valor da terra, aprendemos que o mercado imobiliário como parte integrante de uma lógica que olha para a terra como um mero recurso, desvaloriza elementos que são distintivos e âncoras de biodiversidade. Uma terra terraplanada, sem qualquer vida, tem mais valor que uma terra com acidentes naturais ou rica em biodiversidade.

 

Sendo a maioria dos terrenos florestais em Portugal, propriedade privada e consequentemente mais difíceis de gerir, nomeadamente quanto à questão da prevenção dos incêndios florestais, a missão do fundo ainda se torna mais premente?

Existe uma multiplicidade de fatores que contextualizam o aumento dos incêndios. Enquanto sociedade, valorizamos um bem natural no momento da sua morte: um peixe quando é pescado, uma árvore quando é cortada, etc. Não se cria vitalidade para que as áreas florestais sejam áreas “vivas” e cuidadas e perde-se assim a relação com a terra. A mesma visão de “terra enquanto recurso” favorece as “monoculturas”, o que em seu turno diminui a resiliência dos espaços naturais e agrava as situações climatéricas que propiciam o aumento de incêndios.

Nesse sentido, o fundo pretende contribuir para um entendimento e valorização diferentes, que inspirem e demonstrem outras possibilidades a estes proprietários.

 

Quais têm sido os maiores desafios e quais os objetivos para o Value Flow e para o Regenerative Land Trust Fund?

Este foi um ano em que trabalhámos e experimentámos vários conceitos. Esperamos que o próximo ciclo seja de concretização.

  • – Temos a ambição de lançar o Regenerative Land Trust Fund como projeto-piloto (não como fundo, ainda)
  • – Estamos a preparar um conjunto de outros mecanismos de financiamento, a que chamámos “Regenerative Fund”e que queremos apresentar em breve
  • – Continuamos muito ligados ao projeto SEEDS, que queremos consolidar em Portugal durante o próximo ano.

Tal como muitos agentes de impacto, é difícil encontrar mecanismos de financiamento que ajudem a nossa missão. A maioria dos apoios que existem iriam fazer desviar-nos da nossa rota, sendo que esta questão se tem mostrado um grande desafio.

 

De que forma é que acham que podem contribuir para o ODS 11 “Cidades e Comunidades Sustentáveis” ou para qualquer um dos outros ODS?

A ação do Value Flow é transversal a todos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Já o Regenerative Land Trust Fund está centrado nos ODS 15 e 13, mas com contributos determinantes para o 2,3 6, 11 e 12.

 

Founders de Impacto entrevista os founders das startups residentes, cuja missão se alinhe com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) celebrado em cada mês na Casa do Impacto.

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senhora a tratar da terra