“Depois deste programa (RISE for Impact), sempre que apresento a VARINA foco-me nos dados de impacto, pois isso é o feliz resultado dos nossos produtos.”
A Casa do Impacto à conversa com Joana Paula, promotora da Varina, um projeto foco no turismo de base comunitária que participou na primeira edição do RISE for Impact. Durantes as próximas semanas vamos conversar com outros participantes e mostrar-te que o RISE for Impact é o programa de aceleração certo para desenvolveres o teu projeto de impacto. Candidata-te à próxima edição e junta-te à comunidade que faz a diferença!
A VARINA é uma startup de turismo de base comunitária que participou na 1ª edição do RISE for Impact. Desenvolve as suas atividades nas vilas piscatórias da Trafaria e Costa da Caparica, empoderando, preservando e valorizando as suas tradições e costumes, bem como os membros da sua comunidade.
Os serviços que oferece vão desde passeios de bicicleta pelas vilas piscatórias, a aulas de culinária com os séniores locais (as famosas “avós do mar”), jogos de futebol com locais e ainda team-buildings para empresas e serviços personalizados como almoços em associações recreativas e em casas de pescadores.
Que expectativas tinham quando decidiram candidatar-se ao RISE?
Decidimos participar porque aprender nunca é demais e a estrutura do programa interessava-nos enquanto empresa social de impacto, que pretendia e pretende crescer.
Esperávamos aprender mais e organizar ideias e o objetivo foi cumprido! Estar no RISE permitiu-nos conhecer grandes pessoas, grandes ideias e iniciativas que nos deram ainda mais força para continuar e, claro, gerar mais impacto.
Na fase de capacitação do RISE, participaram em vários “workshops” que pretendem fortalecer o desenvolvimento do vosso projeto. Como é que objetivamente, o vosso projeto beneficiou desta fase e de cada um dos módulos e formadores com quem contactaram?
Ainda hoje, passado quase um ano, continuamos a beneficiar da nossa participação no RISE. Não há uma semana que não fale ou saiba dos nossos colegas e dos seus respetivos projetos. Partilhamos algumas causas, frustrações, sucessos e ainda mantemos relações com os nossos mentores, o Miguel Teixeira, a Catarina Miguel e o Francisco Neves.
Ainda há pouco mais de uma semana pedi conselhos ao Miguel e recebi uma partilha muito interessante da Catarina sobre um possível apoio à VARINA. Eles não nos esquecem, da mesma maneira que nós não nos esquecemos deles. Foram pessoas escolhidas a dedo e isso fica claro no seu excelente desempenho desde o primeiro dia de RISE.
Apesar de o programa já ter terminado, sinto que os mentores continuam ao nosso lado, o que é um verdadeiro privilégio.
Que benefícios elegem do contacto com outros empreendedores e projetos que trabalham para desenvolver o empreendedorismo de impacto?
O networking é, hoje em dia, uma das chaves para o sucesso. Para quem trabalha nesta área, é fundamental não só conhecer outras iniciativas, como partilhar todas as suas dificuldades, que são muitas e muitas vezes parecem exclusivas de alguns negócios.
Eu nunca tinha tido um negócio, nem tão pouco sou filha de empresários. Na verdade, nunca imaginei ter um negócio. Aliás, trabalho desde os meus 17 anos e só agora, enquanto empresária, é que tenho a real noção do que é ser dono de uma empresa.
É muito mais fácil resistir às dificuldades de manter e fazer crescer uma empresa quando estamos no meio de muitos outros, que se encontram na mesma situação. Só eu sei as dificuldades e frustrações que senti, quando disse ao mundo que ia abrir um negócio na vila da Trafaria, onde supostamente nada se passava. A minha sensibilidade dizia-me que ia ser um sucesso, mas os olhares e comentários alheios desmotivavam-me a toda a hora.
Para tornar tudo isto ainda mais difícil, mas também único e disruptivo, misturar a área social e de desenvolvimento comunitário com o turismo foi, desde sempre um desafio.
O nosso país oferece poucas ajudas no que toca à criação de empresas com um propósito social. No entanto, a sua criação não é impossível e a Casa do Impacto ajuda a facilitar este processo, que tende a ser bem mais desafiante para quem cria e gere negócios de impacto social.
Desde a fase de ideação à fase de implementação da VARINA, quais as maiores dificuldades que encontraram e como é que a participação no RISE contribuiu para superá-las?
O grande contributo do RISE para a VARINA foi, a meu ver, a possibilidade de percebermos que, mais do que vender serviços, vendemos impacto social.
Num cenário tão competitivo como o do turismo, esta mudança no que toca à nossa abordagem enquanto empresa social foi fundamental para o nosso posicionamento no mercado. Para além disto, também a rede de contatos que fomos construindo e desenvolvendo foi fundamental para manter e clarificar algumas das nossas principais características positivas, enquanto empresa que trabalha para o desenvolvimento comunitário.
Dos milestones traçados, quais os atingidos?
Íamos ter um 2020 cheio de “good achievements” mas fomos “apanhados na curva”, tal como a maioria das pessoas que trabalham na área do turismo. No âmbito do RISE fizemos ainda a nossa primeira candidatura a um projeto de investimento. Estar naquele ecossistema é mesmo isso – estar no epicentro dos bons acontecimentos e iniciativas que ajudam as ditas “empresas sociais” sem esse estatuto.
Durante o programa aprendemos muito. Como disse anteriormente, antes éramos “VARINA – Turismo de Base Comunitária” e, depois, passámos a ser “VARINA – Turismo de Base Comunitária com Impacto Social”. Isto deveu-se essencialmente ao facto de termos percebido a importância deste conceito e de medi-lo de forma concreta. Era algo que já existia, mas que nós nunca soubemos dar a devida importância.
“De bicicleta ou a pé, desde 2017 que desenvolvemos atividades únicas focadas no desenvolvimento sustentável da Trafaria e da Costa da Caparica, envolvendo fortemente a comunidade local, as várias respostas sociais, organizações e associações existentes nestes territórios.”
Como é que uma startup com o vosso foco, está a experienciar a situação de pandemia atual, em que o turismo é um dos sectores sociais e económicos mais afetados?
A pandemia foi e está a ser o nosso maior desafio. Como empresa de impacto social, supostamente só é possível gerar impacto a partir da venda dos nossos serviços, ou seja, com a venda das nossas atividades turístico-recreativas aos turistas e visitantes da nossa região. No entanto, esta paragem veio enaltecer algumas desigualdades e criar mais desafios aos quais tentámos responder: a ausência de equipamentos informáticos nas escolas e nas famílias locais, por exemplo, fez com que a VARINA se unisse a outras organizações locais na busca desses mesmos equipamentos para doar às famílias. No âmbito do projeto “O Futuro está ON”, em dois meses, graças a alguns dos nossos clientes (grandes empresas) e ao esforço de todos os envolvidos, conseguimos distribuir cerca de 500 computadores completos (usados e novos) pelos jovens em idade escolar do município de Almada, começando pela Trafaria e priorizando todas as escolas TEIP (Territórios Educativos de Intervenção Prioritária).
Outra das atividades que realizámos e ainda realizamos em regime de voluntariado são as visitas domiciliárias aos idosos. Em parceria com a Santa Casa da Misericórdia de Almada, desde abril que os guias locais da VARINA realizam visitas às Avós do Mar e a outros idosos da comunidade, no âmbito do projeto “Não estamos sós”.
Pensamos apostar num mercado mais interno, mas essencialmente focado nas empresas e com o intuito de aumentar o volume de serviços relacionados com os team-buildings realizados no âmbito da responsabilidade social das empresas.
A vossa entrevista sai estes mês, em que falamos sobre o ODS4 – Educação de qualidade e nesse sentido, seria interessante perceber se e como acham que o vosso projeto contribui para atingir este objetivo.
Uma das nossas propostas e planos para 2020 era a criação e lançamento de uma escola de turismo de base comunitário, já que trabalhamos única e exclusivamente com locais. Aliás, é uma parceria que temos fechada com a Escola Secundária do Monte da Caparica, no âmbito do curso profissional de Animação Turística e que acabou por ser o motivo que deu início ao projeto “O Futuro está ON”, da distribuição de equipamentos informáticos pelo Concelho de Almada.
Nós investimos muito na formação dos ditos “guias locais”, que acreditamos serem os principais agentes de mudança aqui na zona. Basicamente o que tentamos fazer é capacitá-los para serem eles a dar a cara pela sua região, valorizando-a e empoderando-a a cada dia e a cada atividade realizada. Esta estratégia tem obviamente duplo efeito – benéfico para o guia local, que é remunerado, mostra e cuida do seu próprio território, e para o próprio desenvolvimento comunitário da região, já que promove de forma muito clara o seu envolvimento e participação cívica. O turista beneficia ainda de uma experiência única, genuína e muito real, com alguém da terra, algo que escasseia e se procura cada vez mais no turismo.
Desejo muito que a VARINA se mantenha e consigamos levar esta parceria a bom porto. Já tínhamos (e temos) dois alunos locais que iriam ser os primeiros alunos da escola.
Que mensagem querem deixar a quem esteja a pensar participar na próxima edição do RISE for Impact?
Não hesitem. A Casa do Impacto é especial e claramente pode mudar a vossa vida enquanto empreendedores.